
Comecei a ver LOST quando pouco sabia de quem era J.J. Abrams. Para mim era o responsável por Alias, uma série interessante e competente q.b. mas que não me conseguiu prender a atenção apesar da cativante protagonista (hehe). Mas rapidamente a série deu a entender que o caminho era outro, não se tratando meramente de uma história de sobrevivência de um grupo de náufragos, mas sim algo bem mais misterioso e complexo. Foi aí que a série criou uma divisão entre a audiência...uns empolgavam-se com os mistérios escondidos da ilha, outros achavam que aquilo(nas palavras do meu pai) «já estava a aparvalhar um pouco».
As questões eram mais que muitas. Entre elas:
-O que faziam ali ursos polares?
-O que é o monstro de fumo?
- O que era a Dharma Iniciative?
-O que fazia ali uma escotilha?
-Quem são os THE OTHERS?
-Um pé de estátua?Com 4 dedos?
-Quem é o tipo que parece não envelhecer?E porque é que ele não envelhece?
-Porque e como foram parar à ilha?
-Quem é o Jacob e qual o seu papel na história?
-Porque estão sempre a aparecer mortos na selva?
-O que raio querem dizer os números??
-O que são os susurros na floresta?
Sim, um vasto display de mistérios não é novidade para ninguém, afinal Twin Peaks (inesquecível e excelente série que me marcou muito) já o havia feito. Mas a estrutura narrativa era invulgar em televisão (flashbacks, depois flashforwards, time travel e por fim o flash-sideways) que ajudava a contar a história, explicava mistérios e fazia com que conhecêssemos melhor os personagens. E é aqui que reside a maior força da série. Os personagens. Não vou mentir...os mistérios foram o que despoletou o meu interesse na série inicialmente, mas a uma certa altura estava mais preocupado em ver como os personagens lidavam com os eventos na ilha e como seria o seu desenlace na história do que saber o que era o monstro de fumo. E isso só era possível com um conjunto notável de actores que fizeram com que eu ficasse investido nos personagens. Quando um deles morria na série, ficava mais chateado do que se morresse o Peter no Heroes por exemplo. Desde Os Sopranos que não via um ensemble cast tão bom. E já que falamos das qualidades técnicas da série tenho de referir os excelentes contributos de Michael Giacchino na imersiva música, Jack Bender na realização com um estilo muito distinto e dos guiões da autoria do Brian K. Vaughan que revitalizaram uma 3a season numa altura em que já estava a perder algum interesse na série.
Atenção agora porque vou entrar em SPOILERS em relação ao episódio THE END.
Já sabem por que gosto da série agora. A pergunta que eu coloco a mim mesmo é:gostei da resolução final? Vamos por partes, primeiro o que não gostei:
-O segmento onde Jack, Desmond e Fake Locke tiram a «rolha» da ilha o que causa a destruição da mesma. Uma cena que desiludiu a nível de produção pois aquilo parecia feito de esferovite. A nível narrativo achei bizarro e não bizarro do estilo «estranho, mas intrigante», mas mais do estilo «o que raios estavam os escritores a beber quando se lembraram disto?»
-A resolução do flash-sideways.Quando se descobre que aquela realidade paralela era na verdade uma espécie de purgatório confesso que me pareceu pouco inspirado. Por um lado ajudou a dar o closure às personagens. Por outro tivemos que assistir ao Christian Shepard a abrir as portas para o Além. Um bocado foleirote.
O que gostei:
-Não haver uma explicação concreta para alguns mistérios, mas deixando elementos suficientes para que os fãs façam o filme na sua cabeça. Ao nível dos mistérios em geral, estou satisfeito em ver a esmagadora maioria deles respondidos(as questões acima foram todas respondidas e muitas outras também), mas se oferecessem uma resolução definitiva para a origem da ilha iria de certeza agradar a uns e irritar outros. Gostei do caminho seguido pelos guionistas.Obriga e pensar e a debater(espero que o façamos nos comentários)
-Excelentes diálogos uma vez mais. Desde ver o Miles a professar a sua confiança inabalável em fita-cola com resultados hilariantes, perceber como foi a relação(que pode ter durado séculos) que Hurley e Ben tiveram com as simples frases «You were a good number two» «You were a great number one»,até ver o confronto verbal entre Jack e o Fake Locke que tem pay-off na empolgante cena de luta final é muito bad-ass.
-Ver como frases que moldaram a série a nível temático como «What happened, happened» e «Live together or die alone» tiveram repercussões no final que ainda que algo lamechas, foi satisfatório a nível emocional. Para isso também contribuiu a montagem eficaz dos elementos das épocas anteriores quando as personagens tiveram o seu despertar no flash-sideways.
-A Kate naquele vestido preto. (Mão no ar à espera de high-five!)
Podia estar aqui o dia todo a escrever. Mas já vos dei seca o suficiente. Resultado deste review: LOST é uma experiência que vale bem a pena ver e rever. Pode ser a espaços frustrante, mas os aspectos positivos ultrapassam largamente os negativos. Mesmo que o final vos desiluda, lembrem-se. "It's the journey that's important, Not the getting there!"
Gostaram de Lost?Odeiam?É vos indiferente? Dêem a vossa opinião nos comentários, especulem e coloquem questões. A série presta-se a isso.